quarta-feira, 30 de maio de 2007

Letras...


(Foto de Susana Rocha)
as letras pequenas e redondas
algo imperfeitas

baralhadas
a tentarem formar palavras

negras e doces
de dor e conforto
a geada que se forma
nos dias frios,
e torna tudo esbranquiçado
a luz que flutua e aquece os sentidos

baralhadas
a tentarem formar palavras

as lágrimas que caem
sem rumo,
sob rostos pálidos
em luto
olhos que vêem as memórias
sinceras e sensíveis

baralhadas
a tentarem formar palavras

no som do silêncio
a lassidão dos movimentos
as palavras sem letras

baralhadas a tentarem formar palavras…

Sara Gonçalves

For some words

Foto de Autor desconhecido

Andante

Na direcção absoluta da alma que caminha,
sente a pequenez dos passos.
Sujos de lama,
diferenciados do que existe à volta.
Anda sempre na diagonal,
como se o vento crescente,
de uma tarde de Inverno,
inventasse o percurso obrigatório do corpo.

Duas vezes andou para trás,
como um urso bárbaro e cheio de medo.
Pelo meio das pedras,
como quem não sabe nadar,
escondeu a vontade de atirar contra os outros a fúria de quem não vence.

Longe de mais as ideias de infância… perto só a certeza do abandono.
Só a altura seria capaz de lhe sossegar a pele.

Filipa Rodrigues

terça-feira, 29 de maio de 2007

Luz...



Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca


Mário Cesariny

By, Jacek Yerka

Exercício das Palavras

Estranho a forma perpétua das tuas linhas acobreadas,
o riso opaco que mostras nos dias de chuva,
a inocência dos teus braços,
a fantasia do teu movimento sempre embaraçado.

Falamos sempre por metáforas, como se a objectividade das palavras nuas fosse proibida a seres que andam sobre ar carregado.

Um dia talvez possamos ser mais do que pretendemos.

Filipa Rodrigues

Passos

De olhos vendados vias-me caminhar
Passos firmes, queixo erguido.
Na boca o esgar da adivinhação,
no corpo o arrepio por desvendar.

Filipa Rodrigues

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Mistério



By Christian Coigny

Exercício do Futuro

No movimento pernicioso do teu ombro encontrei a ideia que faltava.
Foram longos os passeios que fizeste pelo meu corpo,
Na tentativa de encontrar aquela que te escondia.

No movimento viciado das tuas mãos bebi a sombra dos gestos que me fugiam.
Foi lento o exame que fizeste das minhas curvas,
Na tentativa de descobrir o caminho de volta a mim.

Agora, no movimento demorado dos meus passos procuras a absolvição que sempre te negarei.

Filipa Rodrigues


By, Alain Daussin

domingo, 27 de maio de 2007

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Another moment

Nos minutos completos que víamos passar no relógio da sala, contávamos as aventuras dos amantes desconhecidos. Queríamos ser o que eles foram, assaltantes de bancos, terroristas americanos, activistas irlandeses. Depois… a bomba estourou nas nossas mãos!
Filipa Rodrigues

Just a moment

No tempo que passávamos cá dentro, gritavas-me de longe e eu pensava: como poderíamos nós ser silêncio depois de termos os corpos unidos? Nisto o sol rompia e acordávamos amedrontados com a luz que anunciava lentidão.
Filipa Rodrigues

quarta-feira, 23 de maio de 2007

terça-feira, 22 de maio de 2007

Devendra Banhart - Sight to Behold (Jools Holland)

Macy Gray - I Try

Ian McCulloch ,

Pelas palavras, pelas imagens... e para mim que fico comovida ao ouvir esta música!

Lançamento de "Ali", de Diego M. Lora

Love field

By Zena Holloway

Urban Landscapes



By Daniel Blaufuks

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Humanidade...






By Paulo Nozolino

"Não posso salvar uma época.

Limito-me a constatar a sua perda, sem nostalgia, resistindo à desmemoria, à frivolidade e ao ressentimento.

Sinto-me a viver um pós-guerra qualquer, onde alguns homens tentam reencontrar a sua dignidade, escutando o grito profundo que há dentro deles.

A tempo de compreender a vida, antes de a perder.”

Paulo Nozolino, Janeiro de 2005

Anjo Mudo

Vai-te ó anjo sem boca
some-te por entre planícies
deixa que no silêncio
eu me possa ver
e reencontrar sem sombras.

Foste pó,
foste luz,
foste água de fonte
que jorrou sem interrupção.

Vai-te ó anjo sem voz
dilui-te nos montes arredondados
faz com que na aridez
eu consiga ser só
e recuperar os meus membros.

Sou mel,
canção fugaz,
e como nós.

Filipa Rodrigues

As horas

No momento mais próximo da nossa verdade
julgas-me por entre lençóis e algodão

aqui que sou eu e me condenas
ao cárcere da suavidade e da melodia

sou uma pedra encantada
sou um pedaço de papel branco
um espaço vazio
um peso morto.

A voz consome-me,
desfaz-me
solta-me
e viajo… por aqui e por ali…
como se pisasse muitas terras ao mesmo tempo.

E, no dia seguinte
como que a acordar de manhã
a espera que se mantém
o sol que me anuncia mais horas… e um campo repleto de velas acesas.

Filipa Rodrigues

By the window


(Autor desconhecido)

Tenho na pele um arrepio,
um dito que foi de ontem
uma palavra que passou sem ficar.

Tenho no ombro os bigodes de um gato
a língua áspera que me consola
os olhos fixos na minha cor.

Nos meus olhos parados
a luz do holofote claro
os mosquitos a rodarem sem destino
o ar quieto, o cheiro a terra molhada… e eu.

Que esta carta te encontre ainda morno, de frente para o mar…

Filipa Rodrigues

domingo, 20 de maio de 2007

Dinner at the motel



By Daniel Blaufuks

Quarto de Pensão

Há quanto tempo viajamos? Para quê? Se já não reparamos nas paisagens.
Atravessámo-las da mesma maneira que a solidão nos obrigou a percorrer essas outras paisagens de cinza que sobrevivem na memória.
Viajamos porque é necessário enfrentarmos o desamparo dos dias, ao mesmo tempo que procuramos um lugar para descansar e nele ansiarmos por um regresso.
Um nome, um nome apenas, evocando alguém, um lugar ou uma coisa, é a bagagem suficiente para avançar pela noite dentro, esperar a morte, ou iniciarmos o regresso...
Alugámos um quarto. Pernoitaremos aqui. Para lá das paredes deste quarto, na vasta noite do mar, existe uma ilha. Vê-la-emos ao amanhecer.
Chegámos à aldeia ao luso-fusco. Entrámos nela por um largo onde uma rua se abre em direcção ao mar.
A enseada que serve de porto de abrigo avança pela terra adentro. Fecha-se como uma mão à tempestade. É um lugar seguro para os barcos e para as lágrimas da alma.
Mas não há lágrimas na verdaeira tristeza, assim como não há riso na alegria. Falo duma tristeza e duma alegria fundas, escuras, como as minas escavadas, ano após ano, para procurar um veio de ouro.
Lá fora, nas ruas e nos largos, uma luminosidade diáfana coalha, suavemente nas mãos antigas das mulheres.
- Quem chega, etéreo, do outro lado da linha do horizonte?
Quem toca as minhas pálpebras fechadas? Onde se ergue o silêncio dos dias queimados pela paixão? Quem está sobre a minha boca, com este ardor a sal?
Ouve-se o mar, longe daqui, e eu digo:
- Andei tempo a mais pelas ruas. Vivi nelas ao sabor do vento. Dormi em casas abandonadas, e nunca conheci ninguém que me amasse. Encostando-se ao vidro da janela, a Helena diz:
- E se nos calássemos enquanto a memória se esvazia. Está tudo por acontecer. Mesmo o sono, se vier, terá um peso de lume, um sabor a terras mortas e areias salgadas.
Não sei...está tudo ainda por acontecer.

In Anjo Mudo, Al Berto

sexta-feira, 18 de maio de 2007


By Lilya Corneli

The Scribe


Robert and Shana ParkerHarrison

Claridade...




By David Bailey

Rooms by the Sea



Edward Hopper

Exercício Ameno

As flores mortas na janela distante.
O vidro sujo de água castanha,
A contaminar a visão que tínhamos da rua.
Entre dois saltos bem medidos, a coragem a suplantar o medo.

Os gatos preguiçosos a observarem.
A porta aberta,
A perceber que nunca a passaríamos.
Entre o espaço livre, a aragem a contaminar a amenidade.

Tudo a saber que seria tarde de mais na mais ínfima das unidades do tempo.

Filipa Rodrigues

Bloc Party Perform

Hoje em Lisboa!

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Para o V.

















By Emir Kusturica

quarta-feira, 16 de maio de 2007

The Church - It's No Reason

Um dos meus "clássicos".

Underwater Love

As asas que flutuam
na água
tépida
doce
serena;

As vozes que silenciam
na alma
dores
ecos
beijos;

e o meu cabelo solto, como gostas!

Filipa Rodrigues
By Zena Holloway

Gatos e Pessoas

Por fora do vidro da janela, uma luz evasiva parecia querer anunciar-se. Dia ou noite… branco ou negro, sem mais ou menos, certo ou errado, fome ou sede. Indistintos os sentidos dos lugares que ocupava sem deixar marcas. Nas vozes que ouvia sempre, na sala ou nos quartos, os sustos premeditados e os medos repentinos de quem nunca se habituou a estar com os outros. P. fincava bem os pés no soalho aquecido, como se o seu propósito não fosse mais do que permanecer imóvel a vida toda, dentro da sua vontade inteira. O que ela mais queria: que o silêncio se instalasse definitivamente dentro de tudo o que conhecia.
Filipa Rodrigues

Felinos...






By Christian Coigny

terça-feira, 15 de maio de 2007

Sensações de filigranas





















By Ansel Adams


"Caminho...

Oscilações difusas de cores brandas, aquosas, ascendem em movimentos de hélice, a refrescar o ar à minha volta - indícios multicolores soçobram - enroscam-se sons perdidos de azul, num retinir cendrado - volteiam sensações de filigranas - alastram-se ecos de marfim...

Tal é a paisagem de subtileza, nostálgica doutros mundos, que me encerra hoje!

Tudo se me toldou a bruxulear. Tudo se me substitui em Imponderável.

Eu sei, eu sei. É que, verdadeiramente, a partir da Hora-imperial, a minha existência tornou-se sensível a outras dimensões. E é nelas que prossegue hoje a minha vida estática...

Luar de embandeiramentos.

In Céu em Fogo, Mário de Sá Carneiro

cat power - maybe not

Esta música é para mim!

Exercício da Luz

A sua função: perpetuar os pensamentos através da escrita.
Lá, foi toda névoa e corrente forte.
Sem querer, notou a passagem fugaz dos números que lhe ofereciam como esmola.

Longe daquilo que tivera, com um propósito… ser mais do que tudo,
À velocidade da luz que a aquecia sem queimar.

Filipa Rodrigues

Sufjan Stevens - Chicago

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Divagações

"PELO DEVER

de resistir e caminhar
pelos destroços da nossa utopia,
eis-nos aqui de novo, acocorados,
aqui onde o tempo pára
e as coisas mudam.

E PARA QUE O NOSSO SONHO RENASÇA

com a levitação do vento e do grão,
eis-nos aqui de novo,
passivos como os espelhos,
no tear da nossa existência.

ESTE SEMPRE SERÁ

O nosso amanhecer.
E a nossa perseverança
é como a da erva daninha
que lentamente desponta na pedra nua."

In Estrangeiros de nós próprios, João Armando Artur

Levitação

By Zena Holloway

semeia este poema no dia

semeia este poema no dia
disseste
do corpo a morte
como a derrocada da casa
e seus alicerces
para que outros acolham e propaguem
é necessário deixar qualquer coisa feita
sentes estranha a claridade do infinito
pois repara
como labora a chuva sobre a terra
disseste-o tão mais próximo de mim

Maria Costa
By Sonja Mueller

sábado, 12 de maio de 2007

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Querendo ser seda

igual a ninguém eu sou eu
sendo invento em evento
para como seda ser teu
mesmo se sendo só vento

numa carícia à distância
levando o perfume pele
um corpo de ser na ânsia
da escrita sobre papel…

em formato digital dito
nu que agora se escreve
um pensamento expedito

sentir alma de seda a ser
na ideia de mim vai leve
como de ti veio prazer

Francisco Coimbra

Movimento

By Christian Coigny

Coldplay - Fix You (Live At Glastonbury)

For a picture

Na dobra do teu ombro
macio e confuso,
fui o gesto lento do teu braço
que se aproximou da roda que balançava;

numa sede de memórias
fico-me à espera
do preenchimento das paredes vazias.

Filipa Rodrigues
By Christian Coigny

quinta-feira, 10 de maio de 2007

"Man Walking Dog"

"Cheguei ao cinema pela pintura, e a pintura é fundamentalmente um meio sem palavras. Eu adoro palavras nas pinturas, certas palavras"

David Lynch

a cantar vive o poeta

a cantar vive o poeta
letras de liberdade
numa imperiosa oferta
vibrante de ansiedade

letras de água salgada
letras de sol, luz e cor
letras de alvorada
letras de seiva e amor

a cantar vive o poeta
letras ao vento que passa
nas moitas de tojo e giesta
onde se esconde a desgraça

letras de mágoa, alegria
letras de estrelas, luar
letras da noite, do dia
letras do verbo amar

a cantar vive o poeta
letras ao Universo
tecendo letras de festa
nas finas tranças dum verso

letras de boa e má sorte
letras de sensações
letras de vida e morte
letras de quatro estações

a cantar vive o poeta
letras p´ra toda a gente
mendigo, rei ou profeta
canta o que vê e sente

e de asas suspensas no ar
colhe pérolas do Infinito
que faz sua alma flamejar
no divino processo de criar

a cantar vive o poeta
mendigo, rei ou profeta.

In, “ entre dois nós”, Teresa Gonçalves

The GodFather




Na ferida aberta

até as palavras
na tua voz
acertam no espaço ocupado

atiro
o baloiço
como arma
para as tuas pernas
que logo sangram…

balanço
as horas
ainda cá
na poça de sangue

acaricio
com pena
os teus joelhos

que, no entanto
não saram

apenas com festas

sopro
e fica
a ferida aberta…

Filipa Rodrigues

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Underwater


By Zena Holloway

Anacrónico


By, Luís Monteiro da Cunha

Anacrónico dos Sentidos

Experimenta fabricar um dia de ausências:
nem som ou visão. Um dia: puro,
sem a mácula de ruído, de imagens.

Procura o isolamento profundo.
Lentamente,
inexoravelmente, és invadido por leve torpor
que docemente embriaga o plexo,
extraindo-se do nexo casual
e o vazio.
Uma acre sensação de abandono;
de perda; de ausência;
o fel do corpo sobe
à garganta,
sentes a matéria desfazer-se,
ínfima, retalhada,
a voar, milhares de estrelas brilhantes, e
tu vogas, perdido da matéria, do som, do olhar,
como se o peso do conhecido te contraísse o peito,
que sofre avassalador
a implosão da razão. Uma dor lenta,
infantil, acomete os teus olhos
uma vontade dos seios e sorriso mater.

Regride ao ventre que te gerou, e choras,
e espantas-te, e renegas,
e querees socar o universo que gravita serenamente na poeira cósmica de quanto o teu consciente consegue tomar como conhecimento.

Do que sentes e vês sem ver.
Apenas sentes imagens
que fulgurantes, perfuram os sentidos meteróricos.

És acometido pelo impluso
primário de perda
do in-conhecimento humano.

A nova sensação é voraz e dolorosa.

Resiste, resiste!
Não bulas, nem te atrevas a retesar um só músculo.
Aceita-te como te vês, assim és.
Acolhe o esgar dos lábios que extrais do teu ser,
como a força que mantém a imobilidade.
Inerte o gesto e o corpo, que vibra louco,
negando-se por desanexação do real/ irreal.

Agora, encontras-te encontrado,
acolhe tua nova, sempre presente, fragilidade.
Devora o medo, lento, que te invade
de imediato se esvai escuro claro que se faz.
A luz da utopia é a concepção de ideias generalizadas.
O eco que apenas adivinhas nos farrapos de imagens
que trespassam libidinosamente a fragilidade da coragem.

Começas por reconhecer o ínfimo sentimento de paz que te absorve, anulando inúteis temores, inúteis gritos, inútil reconhecimento.

Abandona-te nos braços da teia microscópica
que embala a sensação de finidade inútil.

Reconhece, sem que te reconheças, o vazio da existência magma, onde flutuas.
Sabes agora que a dor – do que conheces como vida – é a dor vazia
inexpressiva de conteúdo, supérfluo viver/sofrer, ignota ignorância do desnecessário preciso.

Apenas após conhecer o silêncio, a in-visão,
quando escutas – inundado – o troar forte
e cadenciado da máquina universal, conseguirás escutar,
ver e compreender, os maravilhosos ínfimos sons,
que te envolvem, penetram e sustêm a matéria.

Saberás então, que o mundo és tu, - etéro –
vive em ti e de ti, engrenagem fundamental
da anacrónica função que resiste, apesar
de cronologicamente, seres um ser,
esquecido que persiste no gesto do suicídio.

Luís Monteiro da Cunha

Lançamento da 1ª Antologia da lista "Amante das Leituras"

O lançamento da 1ª Antologia da lista "Amante das Leituras" irá decorrer, no dia 2 de Junho, na Junta de Freguesia de S. Mamede Infesta, em S. Mamede Infesta ( Matosinhos), pelas 15:30h.
Na Antologia participam 18 autores, com poesia, sendo eles:
- Alexandra Oliveira
- Alice Sequeira
- Ana Maria Costa
- Bernardete Costa
- Carlos Luanda
- Eliana Mora ( Brasil)
- Filipa Rodrigues ( sou mesmo eu!!)
- Francisco Coimbra
- Jorge Vicente
- José Félix
- José Gil
- Luís Monteiro
- Manuel Bento
- Mónica Correia
- Rodrigo e Sousa
- Teresa Gonçalves
- Vera Carvalho
- Xavier Zarco.
Durante o evento poder-se-á assistir a declamação de poemas dos diversos autores, a uma pequena actuação musical e, por fim, a um bailado.
A responsabilidade da edição do livro está a cargo da Ediumeditores, e é a concretização do sonho da Ana Maria que já por aqui tem andado.
Está toda a gente intimada a ir!!

By Matisse

terça-feira, 8 de maio de 2007

Duas janelas


By Daniel Blaufuks

Raio de Visão

Tenho dois olhos
ambos cegos
um do outro.

Ana Maria Soares Costa

EP - Estúdio Café

EP é um café-estúdio que, nas próximas semanas, irá abrir as portas em Penafiel City! É um projecto colectivo e, por isso, ecléctico. Com os pés na terra, vamos tentar introduzir na cidade e, porque não, no país, um conceito de Café-estúdio no qual predominarão múltiplas expressões artísticas. O Jazz, diga-se desde já, será Deus no nosso espaço!
Para além da ambiência artística e relaxada, vamos dispôr de um conjunto de produtos e serviços, onde predominará a boa comida, o bom vinho, o melhor café, as melhores bebidas, enfim, tudo do melhor, como num bom Extended Play!

La Danaide


By, Rodin

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Pedro Pascoinho
(...)

Abri o pacote. Tinha um conjunto de imagens estranhas. Contei uma dezena e meia de lustrosas reproduções a cores do que podiam ser de pinturas ou ilustrações gráficas. A técnica de representação das figuras, paisagens e instrumentos era perfeita embora cada uma das verdades que transmitiam acabasse por se transformar, talvez não numa impossibilidade mas numa evidente irrealidade espacial, temporal e narrativa.
(...)
Ficção a partir da pintura de Pedro Pascoinho por João Lima Pinharanda

Palavras



By, Daniel Blaufuks

Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens,palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
Ao longo da muralha, Mário Cesariny

oração por um lugar vazio

não haverei de estar em cinzas para ressurgir de mim

ó mestre, desconstrói-me as lembranças em fatos sem emoção:
basta-me um fragmento de paisagem, por habitação poética

cúmplice e intimo, ajuda-me a seguir

leva-me a um lugar vazio onde a claridade
entre comigo e eu veja além do desenho
das nossas sombras unidas no chão

e deixa-me lá, para que sozinha eu plante
raízes submersas em uma corrente quente
e nela flua, poema sem ti.

Sónia Regina

By, Sebastião Salgado

Um Leitor

Que outros se vangloriem das páginas que escreveram;
a mim, orgulham-me as que li.
Não terei sido um filólogo,
não terei investigado as declinações, os modos, a laboriosa mutação das letras,
o de que se endurece em te,
a equivalência do ge e do ka,
mas ao longo dos meus anos professei
a paixão da linguagem.
As minhas noites estão cheias de Virgílio;
ter sabido e ter esquecido o latim
é uma posse, porque o esquecimento
é uma das formas da memória, a sua vaga cave,
a outra face secreta da moeda.
Quando nos meus olhos se apagaram
as vãs aparências queridas,
os rostos e a página,
dei-me ao estudo da linguagem de ferro
que usaram os meus ancestrais para cantar
espadas e solidões,e agora, através de sete séculos,
desde a Última Thule,chega-me a tua voz, Snorri Sturlson.
Diante do livro, o jovem impõe-se uma disciplina rigorosa
e fá-lo atrás de um conhecimento rigoroso;
na minha idade, qualquer empresa é uma aventura
que confina com a noite.
Não acabarei de decifrar as antigas línguas do Norte,
não mergulharei as mãos ansiosas no outro Sigurd;
a tarefa que empreendo é ilimitada
e há-de acompanhar-me até ao fim,
não menos misteriosa do que o universo
e do que eu, o aprendiz.
Jorge Luís Borges

domingo, 6 de maio de 2007

(Escre)ver-me

nunca escrevi

sou
apenas um tradutor de silêncios

a vida
tatuou-me nos olhos
janelas
em que me trancrevo e apago

sou
um soldado
que se apaixona
pelo inimigo que vai matar

In, Rais de Orvalho e Outros Poemas, Mia Couto

sábado, 5 de maio de 2007

(des)conhecimento



By Kandinsky

"Enquanto eu lia o livro, a famosa biografia:
- Então é isso (eu me perguntava)
o que o autor chama
a vida de um homem?
E é assim que alguém,
quando morto e ausente eu estiver,
irá escrever sobre a minha vida?
(Como se alguém soubesse
da minha vida um nada,
quando até eu, eu mesmo, tantas vezes
sinto que pouco sei ou nada sei
da verdadeira vida que é a minha:
somente uns poucos traços
apagados, uns dados espalhados
e uns desvios, que eu busco
para uso próprio, marcando o caminho
daqui afora.)"


Enquanto eu lia o livro, Walt whitman

The Birds


Tippi Hedren

"Suspense não é a manipulação de material violento, mas sim a dilatação de um período de tempo, a ênfase no que faz o coração bater mais depressa"
Alfred Hitchcock

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Exercício do Rodopio


By Marly
Guarda-chuvas para Goeldi


"Dez guarda-chuvas abertos, a rodar a toda
a velocidade em mãos ávidas de experiências
materializáveis. coloridos como flores, vivos como
bichos selvagens e indomáveis.



Rodopio, rodopio sempre sobre pés doridos e
espírito bamboleante!
Grito!
Grito!
Grito!



Sensível às pequenas coisas. Aos sopros mínimos,
aos pensamentos simples."



In, Os meus exercícios, Filipa Rodrigues

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Caminhos sinuosos


By Daniel Blaufuks

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

"In the Neighborhood: streets from New York"


By Etsuko Kimura