quarta-feira, 29 de agosto de 2007

a normal day


By Dinu Lazar

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Door


By Geoffroy Demarquet





"O coração, se pudesse pensar, pararia."

Bernardo Soares

sábado, 25 de agosto de 2007

Esperemos

"Há outros dias que não têm chegado ainda,
estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão
-existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato."


Pablo Neruda (Últimos Poemas)

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Viagem

No sol calcado que desvanece
uma luz desmaiada
o pó da estrada.

No lento percurso da viatura
vês os dias correrem
na direcção oposta.

Fossem todos os propósitos vistos por dentro,
todas as fases esclarecedoras,
todos os sinais interpretados
e o silêncio deixaria de existir.

Desaparecessem todas as mágoas escondidas
e não estaríamos aqui
envoltos em penumbra e calor.

Filipa Rodrigues

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Improviso de Verão

Aparece de lá longe o dia quente
a pedra mole
o fogo a saltar.

São dois corpos molhados
a areia a escorrer
a pele queimada.

Quando a porta se abre e me vês,
impaciente
irada
pronta a atacar,
já não sou menina doce.

Longe, os dias de intimidade
ainda nos restam na memória
e no corpo cansado.

Dois ou três movimentos… eu e tu!

Filipa Rodrigues

sábado, 18 de agosto de 2007

Beleza



By Agatha Katzensprung



"[...] A beleza é uma forma de génio...
diria mesmo que é mais sublime que o génio por não precisar de qualquer explicação.
É um dos grandes factos do mundo, como a luz do sol,
ou a primavera, ou o reflexo nas escuras águas dessa concha de prata a que chamamos lua.
É inquestionável. [...] "

In O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

o mundo aos pés ou ...




By Agatha Katzensprung

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Dança

Entre o vazio da sala e eu
permanece fixa a tua presença,
obstinada,
alicia como quem despe com um olhar
os meus sentidos,
arrepia a minha vontade
como a lâmina de uma espada
e faz tremular a memória
ainda casta.

Inspiro o teu perfume que as paredes libertam
e a minha face ergue-se
à procura do teu beijo.
Não te alcanço.
O corpo vem por arrasto.
Não te alcanço!
Os braços estendem-se para abraçar as
partículas que ainda restam.
Não te toco!
Giro, volteio, revoluteio.
Não te encontro…
O delírio atira-me ao chão
mas a vontade ergue-me a face
à procura do teu beijo.

Vera Carvalho

domingo, 12 de agosto de 2007

estados

Naqueles anos, todos eles se tinham movido sem saberem muito bem se acordariam na manhã seguinte. Viviam numa febre constante, numa vertigem, nem excesso permanente. Era preciso viver depressa e morrer, de preferência ainda jovem. Nenhum deles alimentava projectos ou ambicionava fosse o que fosse. Era lhes indiferente estar vivo ou morto. Mantinham-se nesse lugar mal iluminado e sem saída: a vida.
Uns tinham fugido de casa dos pais, outros tinham-se exilado voluntariamente do mundo. Viviam espalhados por apartamentos de subúrbio, ou tinham viajado por países distantes donde raramente regressavam. E, dos que ficaram, nenhum possuía uma ideia precisa daquilo que seria necessário fazer para não sucumbir em tamanha desolação. Nenhum deles tentara sequer explicar aos outros que estranho vazio se apoderara de si.
Restava-lhes a amizade e a cumplicidade de alguma paixão para resistirem ao caos devorador da cidade, e à moleza quase beata da "geração" a que se recusavam pertencer.

"Geração" essa que eles viram, com curiosidade e algum desprezo, pôr a tralha às costas e partir sem destino. Anos mais tarde, uma vez regressados, atulhados de tudo quanto haviam recusado e abandonado, não faziam senão cobrir-se de ridículo. Vivendo no sossego falso de apartamentos "estilo humilde"(banquinhos de madeira e almofadas no chão, reproduções de budas espalhadas desde o wc ao quarto), rodeados de filhos e animais de estimação, davam-se ao trabalho de inculcar, tanto a uns como a outros, novos preceitos morais e uma boa dose de ecologia tonta. Eram peritos em discursos santos e tristonhos, advertindo à força as crias vegetarianas contra os inúmeros pecados da carne.
Para Beno e os amigos, era precisamente a fúria de tudo desejar e ter imediatamente que os impedia de soçobrar na vulgaridade e na norma. Os outros pareciam acomodar-se num estado morto-vivo, enquanto eles iam morrendo a cada instante. Lúcidos e atentos, mesmo quando a loucura lhes roubou Zohía, e a morte embarcou Kid num esquife de treva e dor.

In Lunário, Alberto

Em algum lugar...



By Alfredo Almeida Coelho da Cunha, in Olhares

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Aqui. Hoje.

Já somos o esquecimento que seremos.
A poeira elementar que nos ignora
e que foi o ruivo Adão e que é agora
todos os homens e que não veremos.
Já somos na tumba as duas datas
do princípio e do término, o esquife,
a obscena corrupção e a mortalha,
os ritos da morte e as elegias.
Não sou o insensato que se aferra
ao mágico sonido de teu nome:
penso com esperança naquele homem
que não saberá que fui sobre a Terra.
Embaixo do indiferente azul do céu
esta meditação é um consolo.

Jorge Luís Borges

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Fusão





By Geoffroy Demarquet