terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A última despedida


Encontro-te para me despedir uma última vez...



Fotografia - Rattus in olhares.com

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Olhares

No teu olhar perdido, algures no ecrã
vejo-me, e nesse teu lado onde é o meu lugar
sem necessidade de ajuste ou espaço
somos apenas!

Existirá sempre um lugar para nós?

Para já... recordo-me e sinto de novo,
a imagem dos teus olhos atentos no ecrã ... doce... simples... minha!


Palavras de Sara / arranjo técnico de Filipa

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

By the Window

Tenho na pele um arrepio,
um dito que foi de ontem
uma palavra que passou sem ficar.

Tenho no ombro os bigodes de um gato
a língua áspera que me consola
os olhos fixos na minha cor.

Nos meus olhos parados
a luz do holofote claro
os mosquitos a rodarem sem destino
o ar quieto, o cheiro a terra molhada… e eu.

Que esta carta te encontre ainda morno, de frente para o mar…

Filipa Rodrigues

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Alain Daussin


Eagle, Erwin Olaf


Just in Time...

Dentro deste momento que é silêncio e novidade,
rochas calmas e algodão irrequieto
Movem-se três corpos na direcção oposta à vontade,
Três elementos soltos, sonho de alegria infantil.

Dentro desta surpresa que a manhã de outono traz,
Pele estalada e arrepios de frio,
Os movimentos das mãos sentidas como uma primeira vez
Chocam nas traves imaginárias da estrada juvenil.

Fora de mim,
o estorvo das vozes em redor,
Os dias iguais a rotas sazonais,as casas despidas.

Filipa Rodrigues

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Na outra/nossa margem do mundo....

O que mais dói na miséria é a ignorância que ela tem de si mesma.
Confrontados com a ausência de tudo, os homens abstêm-se do sonho, desarmando-se do desejo de serem outros.
Existe no nada essa ilusão de plenitude que faz parar a vida e anoitecer as vozes.
Estas estórias desadormeceram em mim sempre a partir de qualquer coisa acontecida de verdade mas que me foi contada como se tivesse ocorrido na outra margem do mundo.
Na travessa dessa fronteira de sombra escutei vozes que vazaram o sol.
Outras foram asas do meu voo de escrever. A umas e a outras dedico este desejo de contar e de inventar.

Mia Couto

quinta-feira, 23 de julho de 2009

fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.

José Luis Peixoto