segunda-feira, 23 de abril de 2007

Debussy

(…)
V

Eu hei-de amar sempre, confesso,
muitas mulheres em cada mulher,
e uma só, para sempre, em todas
quantas sei e quero amar.
Eu e os faunos gostamos da tarde
para amar e para dormir, rebeldes.
A orquestra que trago na cabeça
é um mar, uma ilha, um naufrágio,
uma pétala de púrpura e seda, envenenada.
A verdade do que faço, entende,
pode não estar no impaciente coração da música,
mas está, asseguro-te, na chama
dos meus olhos a chamarem por ti.
Quem me olhar assim, nos olhos,
sentirá o travo da paixão e o milagre luminoso
que cresce na voz quando desperto.

In, A Dúvida Melódica, José Jorge Letria

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