terça-feira, 24 de abril de 2007

Fuga

Eu sei que no passo forte imprimes a
vontade constante de estar longe.
As esquinas por onde páras, aqui e ali,
deixam-te a feroz sensação de andar
perdido dentro do mundo veloz.
Cabisbaixo, olhas os pés dos outros
à espera de revelações melodiosas.
Em mim, eu sei,
seguirás como um ladrão de tempo,
sempre pronto a recomeçar.

Retiras do bolso um papel pequeno e
entregas à primeira que, por ti, passa na rua.
Dois segundos à frente sabes que a sua cabeça se voltará,
que os olhos dela se cravarão nos teus, e que,
de nada te servirá dizer ‘bom dia’.
No espanto das mulheres procuras alimento,
a reacção temível que te incitará a roubar mais um gesto ou outro.
Ninguém te fará abrandar enquanto na alma
te subsistir o desejo supremo da fuga.
Filipa Rodrigues

1 comentário:

Francisco Coimbra disse...

enleio
Pergunto-me que palavra entra na inspiração fazendo teu sangue surgir arterial, alimentar teu coração? Escrevo estas, na vã esperança.
Sem esperança, espero e moro onde morro: esperando o esperanto do espanto, onde sempre te leio.