segunda-feira, 30 de abril de 2007

Piano


"Havia pianos encaixados de todas as formas possíveis. Nas folgas onde não se encaixavam completamente, a claridade atravessava teias de aranha abandonadas que seguravam gotas de água, como pontos de brilho. O ar fresco do cemitério dos pianos entrava nos pulmõess e trazia o toque húmido do pó pastoso que era a única cor: o cheiro de um tempo que todos quiseram esquecer, mas que existia ainda. O silêncio desprendia-se dessa cor clara e antiga. A luz atravessava o silêncio."
In, O Cemitério dos pianos, José Luís Peixoto

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