sexta-feira, 20 de abril de 2007

O Nosso Cenáculo

( Às minhas amigas D. e S.)

A casa tornava o tempo tenro,
E, como carne suculenta deixava um rasto adocicado em nós.
Perto da aparelhagem sempre a quantidade certa de cd
Dos quais só ouvíamos um ou dois.
Podíamos ser três, cinco, sete ou cem,
Sem que o ar ficasse sobrecarregado.

Lembram-se de como nos sentíamos sempre mais próximas do mundo e das gentes?
De como nos sentávamos aconchegadas em sofás rasgados e cadeiras duras?

Comíamos nos joelhos ou onde calhasse,
Ouvíamos as palavras saídas da voz de alguém que hoje está longe,
Escondíamos a televisão no quarto
E olhávamos para as prateleiras à procura de mais um livro.
Às vezes éramos só duas, outras as três,
Sem que no ar se manifestasse qualquer incómodo.

Ainda sentem as mãos a tocarem naqueles objectos todos, cobertos sempre do pó que trazíamos da rua?
De como atirávamos os casacos e os cadernos para cima da mesa que só tinha espaço para nós?

Na nova casa volta a sensação confortável da amizade,
Que, como nas longas noites antigas, nos faz respirar com mais facilidade.
A música que agora é maior, mais bonita, mais forte, mais sentida,
Faz-nos caminhar em direcções sempre perpendiculares.
Podemos ser uma, duas ou três
Sem que no ecrã o espaço fique exíguo.
Filipa Rodrigues

4 comentários:

Massive disse...

Saudade!
:)
É bom estarmos de regresso!

Sara disse...

k linda!!!
os bilhetes deixados ao acaso no primeiro papel que noa aparecia...
as árvores de natal escolhidas meticulosamente porque era e será sempre natal...
um cigarro, um copo de água, o nick e o dia depois da noite!!!

Filipa Rodrigues disse...

E do santuário?
Também se lembram???
Gargalhada geral...

Beijinhos meninas

Victor Matos disse...

"Apesar disso
ou já com isso ás costas
o poeta forjara realmente um plano:
louvar o ser amado ter amigos leais
escrever todos os dias ou dia sim dia não
publicar (o possivel)
e protestar com lhanesa com simplicidade quer pessoalmente
quer por telegrama contra toda e qualquer prepotencia
mandona...

Mario Cesariny