quarta-feira, 2 de maio de 2007


"Estendi os braços à procura de qualquer coisa a que me pudesse prender, e não encontrei nada. Mas, embora ao estender os braços, ao fazer o esforço para agarrar, para me prender, ficasse tão sem nada como antes, embora isso acontecesse, o certo é que encontrei qualquer coisa que não procurara: encontrei-me. Descobri que o que desejara a vida inteira não fora viver - se o que os outros fazem se chama viver - e, sim, exprimir-me. Compreendi que nunca tivera o mínimo interesse em viver, mas apenas nisto que estou a fazer agora, em qualquer coisa que é paralela à vida, que simultaneamente, faz parte da vida e a ultrapassa. O que é verdade pouco ou nada me interessa, nem tão-pouco o que é real; só me interessa o que imagino ser, o que asfixiara toda a vida a fim de poder viver. Se morrer hoje ou amanhã ser-me-á indiferente, sempre foi; o que me incomoda, o que me ulcera, é que mesmo hoje, após anos de esforço, não possa dizer o que penso e sinto."
In, Trópico de Capricórnio, Henry Miller

3 comentários:

Massive disse...

Sara,
Consegui!Consegui publica-lo!!
Mas não deixa de ser nosso.
O texto é perfeito e encaixa na conversa que não terminamos!!
Consegues entender-me....

Obrigada
:)

Sara disse...

Minha Amiga!
Está lindo!!!
Sabes, o silêncio também é linguagem, não é?!
Apetece-me apenas dizer:
!!!!!!!!!!!!

Miguel Martins disse...

Andei tanto tempo à procura desta citação! Procurei-a em tantos livros do homem e nada. Tinha-a escrito num caderno sem mais nenhuma referência! Até que enfim... Obrigado!